Print

A Carta Secreta de Obama para Teerão: « A Estrada para Teerão passa por Damasco »
Par Mahdi Darius Nazemroaya
Mondialisation.ca, 24 janvier 2012
Resistir.Info 24 janvier 2012
Url de l'article:
https://www.mondialisation.ca/a-carta-secreta-de-obama-para-teer-o-a-estrada-para-teer-o-passa-por-damasco/28864

O New York Times anunciou que a administração Obama tinha enviado uma carta importante aos dirigentes do Irão a 12 de Janeiro de 2012. [1] A 15 de Janeiro de 2012 o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano reconheceu que a carta tinha sido entregue a Teerão através de três canais diplomáticos:

1) uma cópia foi entregue ao embaixador iraniano nas Nações Unidas, Mohamed Khazaee, pela sua equivalente norte-americana, Susan Rice, em Nova Iorque;
2) uma segunda cópia da carta foi entregue em Teerão pela embaixadora da Suíça, Livia Leu Agosti; e
3) uma terceira cópia partiu para o Irão através de Jalal Talabani, do Iraque. [2]

Na carta, a Casa Branca expunha a posição dos EUA, ao passo que responsáveis iranianos afirmaram que ela constitui um sinal do real estado das coisas: os EUA não podem dar-se ao luxo duma guerra contra o Irão.

Da carta, escrita pelo presidente Barak Hussein Obama, constava um pedido norte-americano para o início de negociações entre Washington e Teerão visando colocar um termo às respectivas hostilidades.

« Na carta, Obama anunciava a disponibilidade para negociações e a resolução de desacordos mútuos », declarou Ali Motahari, um negociador iraniano, à agência noticiosa Mehr. [3] De acordo com outro negociador iraniano, desta feita o vice-presidente da Comissão de Segurança Nacional e Política Exterior do Parlamento do Irão, Hussein Ebrahimi (Ibrahimi), a carta prosseguia solicitando a cooperação e negociações do Irão com os EUA baseadas nos respectivos interesses mútuos. [4]

A carta de Obama procurava igualmente assegurar Teerão de que os EUA não se envolveriam em quaisquer acções hostis ao Irão. [5] De facto, em simultâneo o Pentágono cancelou ou adiou grandes exercícios conjuntos com Israel. [6] Para os iranianos, porém, estes gestos são desprovidos de significado, dado que os actos da administração Obama têm sido sempre contrários às respectivas palavras. Mais amplamente, o Irão está persuadido de que os EUA não atacaram apenas porque sabem que os custos de uma guerra com semelhante oponente são demasiado elevados e as respectivas consequências demasiado arriscadas.

Todavia, isto não significa que um conflito aberto Irão-EUA tenha sido evitado ou que não possa acontecer. As correntes podem levar em qualquer direcção, por assim dizer. Nem tão-pouco impede que a administração Obama esteja já a conduzir uma guerra contra o Irão e os respectivos aliados. De facto, os blocos de Teerão e de Washington têm prosseguido uma guerra fantasma que se prolonga da arena digital e das ondas televisivas até aos vales do Afeganistão e às agitadas ruas de Bagdad.

A guerra contra o Irão começou há vários anos

A guerra contra o Irão não começou em 2012 ou sequer em 2011. A revista Newsweek chegou ao ponto de afirmar num título de página em 2010: « Assassínios, ataques cibernéticos, sabotagem — será que a guerra contra o Irão já começou? » A guerra real pode bem ter começado em 2006. Em vez de atacarem o Irão directamente, os EUA iniciaram uma guerra encoberta e através de proxies. As dimensões secretas da guerra têm sido travadas através de agentes infiltrados, ataques cibernéticos, vírus informáticos, unidades militares secretas, espiões, assassinos, agentes provocadores e sabotadores. O rapto e o assassínio de cientistas iranianos que teve início há vários anos é uma parte constituinte desta guerra encoberta. Nesta « guerra sombra » vários diplomatas iranianos em Bagdad têm sido vítimas de sequestros e cidadãos iranianos em visita à Geórgia, à Arábia Saudita e à Turquia foram detidos ou raptados. Vários responsáveis sírios e importantes figuras palestinianas, bem como Imad Fayez Mughniyeh [dirigente do Hezbollah libanês], foram também assassinados.

A guerra por proxies começou em 2006, quando Israel atacou o Líbano com a intenção de expandir a guerra em direcção à Síria. O caminho para Damasco passa por Beirute, do mesmo modo que Damasco está na rota para Teerão. Depois do falhanço de 2006, e compreendendo que a Síria era o ponto fulcral do Bloco de Resistência, dominado pelo Irão, os EUA e os seus aliados passaram os cinco ou seis anos subsequentes a tentarem separar a Síria do Irão.

Os EUA combatem igualmente o Irão e respectivos aliados na frente diplomática e na económica, através da manipulação de organismos internacionais e de estados satélites. No contexto de 2011-12, a crise na Síria constitui ao nível geopolítico uma frente da guerra conta o Irão. Até mesmo os exercícios conjuntos norte-americanos e israelenses « Austere Challenge 2012 » e a correspondente deslocação de tropas visaram primordialmente a Síria enquanto forma de combater o Irão.

  

A Síria no centro da tempestade

O que Washington está a levar a cabo consiste em exercer pressão psicológica sobre o Irão como maneira de o distanciar da Síria, de forma que os EUA e as suas legiões possam desferir o golpe mortal. Até ao começo de Janeiro de 2012 os israelenses têm estado em permanente preparação para o lançamento da invasão da Síria, numa repetição da iniciativa de 2006, enquanto os EUA e a UE têm continuadamente tentado chegar a um arranjo com Damasco, de forma a separá-la do Irão e do Bloco de Resistência. Todavia, os sírios têm persistentemente recusado esses avanços.

Foreign Policy, publicou um artigo em Agosto de 2011 expondo o que era a visão do rei Saudita acerca da Síria no contexto do ataque ao Irão: « O rei sabe que à parte o colapso da própria República Islâmica, nada enfraquecerá mais o Irão do que a perda da Síria. » [7]

Tenha esta afirmação sido genuinamente proferida ou não por Abdul Aziz Al-Saud, a respectiva concepção estratégica é representativa das razões para visar a Síria. O próprio conselheiro de segurança de Obama disse a mesma coisa, poucos meses depois de a notícia da Foreign Policy ter sido publicada, em Novembro de 2011. O conselheiro de segurança nacional [Thomas E.] Donilon garantiu num discurso que o « fim do regime de Assad constituiria o maior inconveniente regional para o Irão — um golpe estratégico que alterará o equilíbrio de poder na região contra o Irão. » [8]

O Kremlin também produziu afirmações que corroboram a ideia de que Washington pretende separar a Síria do aliado iraniano. Um alto responsável russo para assuntos de segurança anunciou que a Síria está a ser punida pela sua aliança com o Irão. O secretário do Conselho Nacional de Segurança da Federação Russa, Nikolai Platonovich Patrushev, declarou publicamente que a Síria está submetida à pressão de Washington devido aos interesses geoestratégicos apostados na quebra dos seus laços com o Irão, e não em virtude de quaisquer preocupações humanitárias. [9]

O Irão também deu sinais de que, no caso de os sírios serem atacados, não hesitaria em intervir militarmente em seu apoio. Washington não pretende esse curso de eventos. O Pentágono preferiria engolir a Síria primeiro, antes de dirigir a sua atenção plena e indivisa para o Irão. O seu objectivo consiste em superar cada obstáculo à vez. Não obstante a doutrina militar norte-americana acerca da prossecução de guerras simultaneamente em vários teatros de operação, e de toda a correspondente literatura do Pentágono, a verdade é que os EUA não estão preparados para suportarem uma guerra regional convencional simultaneamente contra o Irão e contra a Síria, menos ainda para o risco duma guerra estendida aos aliados russo e chinês do Irão.

O caminho para a guerra, porém, está longe de ter chegado ao fim. Por enquanto, o governo norte-americano terá de continuar com a « guerra sombra » contra o Irão, enquanto intensifica as guerras mediática, diplomática e económica.

Mahdi Darius Nazemroaya é sociólogo, autor premiado e investigador associado do Centre for Research on Globalization (CRG), Montreal. Está especializado em questões do Médio Oriente e da Ásia Central. Tem contribuído para discussões relativas ao Grande Médio Oriente em numerosos programas internacionais e em estações televisivas tais como a Al Jazeera, a TeleSur, a Press TV e a Russia Today. Escritos seus foram publicados em mais de vinte idiomas. Escreve para a Strategic Culture Foundation (SCF), Moscovo.

O original encontra-se  em: Global Research – 20 Janeiro 2012
Tradução de
Resistir.Info – 24 Janeiro 2012

NOTAS
 

[1] Elisabeth Bumiller et al., « US sends top Iran leader warning on Hormuz threat, » The New York Times, 12/Janeiro/2012.
[2] Mehr News Agency, « Details of Obama’s letter to Iran released, » 18/Janeiro/2012.
[3] Ibid.
[4] Ibid.
[5] Ibid.
[6] Yakkov Katz, « Israel, US cancel missile defence drill » Jerusalem Post, 15/Janeiro/2012.
[7] John Hannah, « Responding to Syria: The King’s Statement, the President’s hesitation, » Foreign Policy, 9/Agosto/2011.
[8] Natasha Mozgovaya, « Obama Aide: End of Assad regime will serve severe blow to Iran, » Haaretz, 22/Novembro/2011.
[9] Ilya Arkhipov e Henry Meyer, « Russia Says NATO, Persian Gulf Nations Plan to Seek No-Fly Zone for Syria, » Bloomberg, 12/Janeiro/2012.

Avis de non-responsabilité: Les opinions exprimées dans cet article n'engagent que le ou les auteurs. Le Centre de recherche sur la mondialisation se dégage de toute responsabilité concernant le contenu de cet article et ne sera pas tenu responsable pour des erreurs ou informations incorrectes ou inexactes.