Mito da Doutrinação: Serás um Pateta nas Mãos da Abin e da Oligarquia Tupiniquim?

Em agosto de 2016, o jornalista e economista norte-americano Paul Craig Roberts, secretário-adjunto do Tesouro para a Política Econômica dos Estados Unidos na administração do presidente Ronald Reagan em 1981, escreveu em Serás um Pateta nas Mãos da CIA?:
« A expressão ‘teoria da conspiração’ foi inventada e posta a circular no discurso público pela CIA, em 1964, a fim de desacreditar os muitos cépticos que contestavam a conclusão da Comissão Warren de que o presidente John F. Kennedy fora assassinado por um pistoleiro solitário chamado Lee Harvey Oswald, o qual por sua vez foi assassinado enquanto sob a custódia da polícia antes que pudesse ser interrogado. A CIA utilizou seus amigos nos media para lançar uma campanha a fim de tornar suspeições do relatório da Comissão Warren alvo de ridículo e hostilidade. Esta campanha foi “uma das iniciativas de propaganda de maior êxito de todos os tempos”.
« Atualizado nos Estados Unidos, o rótulo de conspiracionista vale hoje também a todos aqueles que questionam a insustentável versão oficial envolvendo os atentatos terroristas de 11 de setembro de 2001.
No Brasil, a estratégia de se rotular ameaças ao poder estabelecido se dá contra defensores de políticas sociais, rotulados agressivamente de doutrinadores » ou « ideólogos ». E milhões de cidadãos desavisados embarcam nesta mediocridade que tem polarizado cada vez mais a historicamente rachada sociedade brasileira, enquanto políticos oportunistas aplicam suas ideologias corruptas e anti-sociais indiscriminadamente.
A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) foi criada em 1999 pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, é uma reedição do Serviço Nacional de Informações (SNI) criado pela ditadura militar brasileira sob supervisão da CIA em 1964, para vigiar e controlar a sociedade brasileira, especialmente movimentos sociais e trabalhadores grevistas. E esta prática tem crescido assustadoramente nos últimos anos, mesmo nos do PT no governo federal.
Dentro do contexto atual de vigilância doméstica, de caça às bruxas contra setores progressistas brasileiros, e da forte influência da própria CIA à Polícia federal, à própria Abin já que esta é uma extensão de seu antecessor, o SNI, e aos assuntos políticos, econômicos e sociais do Brasil, tudo leva a crer que essa onda de ataques sistemáticos a ideias progressistas trata-se de mais uma produção dos laboratórios da Abin, bem ao estilo norte-americano que exporta seus métodos de controle social, como exemplifica a Escola das Américas.
As lista de evidências da fragilidade, ou da estupidez de se rotular os defensores de políticas sociais de « ideólogos » é tão vasta, que fica difícil optar por apenas algumas delas. Pois o mais recente exemplo vem do político com capacidade marqueteira de poucos atualmente, o prefeito paulistano João Dória que, apoiando-se na despolitização por que seu setor reacionário tanto preza para dominar e gozar dos privilégios do poder sobre uma massa alienada, tem retirado os poucos direitos sociais na maior cidade da América latina, sem que a sociedade se de conta, distraída com aquele que se intitula « gestor » e não político.
Chama a atenção que os mesmos que achincalham programas como o Bolsa Família de Lula (que Aécio Neves afirmou, na campanha presidencial de 2014, manter, na verdade criada por Fernando Henrique Cardoso com o nome de Bola Escola), regozijam-se com o assistencialismo de Dória, que tem doado o salário a instituições de caridade; pois o mais contraditório é que, ao mesmo tempo que faz isso, o « gestor alegadamente « sem ideologias » corta indiscriminadamente verbas da saúde, educação e privatiza até parques municipais. Mas é claro: o « apartidário » de turno, que reza perfeitamente a cartilha de seus padrinhos do PSDB e arranca suspiros dos eleitores de São Paulo, é paulistano e oriundo das classes dominantes, não um nordestino da roça.
Enfim, o último exemplo do quanto a sociedade brasileira em geral tem se prestado a fazer o papel de pateta da Abin, que representa os interesses das oligarquias nacionais, é que em nome da « neutralidade » Dória pretende disseminar nas escolas da cidade de São Paulo livros de economia do Instituto Mises Brasil, que promovam os princípios de livre mercado.
Ludwig von Mises (1881-1973) foi um dos fundadores da Escola Austríaca de Economia, e defendeu o combate à intervenção estatal. « Aprender economia é essencial na vida das pessoas », disse recentemente o prefeito paulistano, ao mesmo tempo que condenou aquilo que chama de “doutrinação” nas escolas. Pois… a que nível chegou o « debate » tupiniquim: os materiais de Mises não contêm uma linha ideológica, bem clara?
O que se está fazendo é, como nos piores anos da Guerra Fria, criminalizar visões progressistas e até a política ao negá-la (com fins ditatoriais, de aniquilação do pouco que há de Estado de direito) sob auto-rótulo de « gestor » ou coisa que o valha.
Na era da Internet, é grave que milhões de indivíduos caiam tão facilmente neste engodo; a sociedade é, cada vez mais, responsável pelas informações que consome, e pelo destino do país. Cada vez menos, pode ser considerada « vítima » da imposição da ignorância pelos donos do poder.<
Porém os agressivos fundamentalistas da ideologia que prega políticas elitistas, travestidos de « apolíticos » sem criatividade que nunca renovam suas artimanhas de dominação, de exploração e da roubalheira indiscriminada, tem obtido sucesso, inversamente proporcional ao nível desta paupérrima « engenharia intelectual » de « combate à ideologia », em promover a alienação de indivíduos que, por comodidade, por medo ou por uma combinação de ambos, preferem se manter despolitizados, sem posição clara e indiferentes, seguindo a corrente predominante que não é nem nunca foi pautada pelos interesses da maioria da sociedade, senão do 1% dominante (ao qual o enodo Dória pertence).
Por que Jair Bolsonaro pode defender que cada cidadão tenha uma pistola em casa, sendo considerado livre de ideologias, ao passo que quem defende o desarmamento deve ser tachado de « ideólogo »? Por que um professor pode (e com Dória deve) ensinar as leis do livre mercado (neoliberalismo), enquanto um professor que questiona este sistema deve ser criminalizado e responder na Justiça pelo crime »? Por que Dória pode cortar um orçamento já pequeno da Prefeitura para a cultura, na ordem de 0,8% do total da gestão anterior (quando a UNESCO recomenda um mínimo de 1%), agora sofrendo corte de 45% que praticamente zera os recursos para programas e projetos culturais, enquanto quem se opõe a isso defendendo fortes investimentos em educação e cultura, é considerado « doutrinador »? Por que novamente ele, Bolsonaro pode alegar que negro quilombola e índio « não serve nem para procriar », enquanto um professor que defende justiça social e igualdade de direitos deve ser ameaçado e até chegar a apanhar de pais de alunos, além de ser fortemente discriminado pelo terrorista Estado brasileiro?
Por que este autor merece ser, aos gritos, ameaçado de agressão física por, « comunista comedor de criancinhas », defender os direitos dos refugiados haitianos, agredidos e assassinados no Sul branco do País, enquanto os mesmos que ameaçam este autor são considerados a nata intelectual e moral brasileira, « livres de ideologias? Quando a sociedade brasileira vai despertar para o que anda ocorrendo?
Até onde vai este papel de pateta nas mãos das oligarquias nacionais que grande parte da sociedade brasileira tem se prestado a fazer? Outro exemplo claro de que não há nada de apartidário nem de democrático neste pobre conteúdo reacionário, que só engana os mais ignorantes, é o próprio caráter profundamente agressivo que cerceia a discussão de ideias e a liberdade de expressão que permeia todos os setores da sociedade, muitas vezes valendo-se de agressões físicas pelos mais banais motivos.
Nunca, após 1964, a democracia brasileira correu tanto risco nas mãos de subprodutos de um Estado autoritário, como João Dória, Jair Bolsonaro, e outros elementos deste tipo, de péssimo gosto moral e intelectual.
Edu Montesanti