Planos de guerra da administração Bush para o Irão

Citando fontes oficiais, os meios de comunicação ocidentais confirmam agora, um tanto atrasados, que os planos de guerra da administração Bush virados para o Irão são « para valer » e devem ser levados a sério.

Podem vir a ser desencadeados « bombardeamentos punitivos » contra Teerão nos próximos meses.

A postura diplomática acabou. Diz-se que o Pentágono « está a dar passos para concretizar um confronto militar com o Irão » dado que alegadamente as iniciativas diplomáticas não conseguiram chegar a uma solução.

Estas declarações diabólicas aparecem poucas semanas depois da publicação do relatório da Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA). Este relatório confirma inequivocamente que o programa nuclear do Irão é de natureza civil e que o Irão não tem intenções nem condições de fabricar armas nucleares:

Artigo IV (1): Estas modalidades abrangem todas as questões restantes e a Agência [ou seja a IAEA] confirmou que não há mais questões nem ambiguidades no que se refere ao programa e actividades nucleares anteriores do Irão.

Artigo IV (3): A delegação da Agência é de opinião que o acordo sobre as questões acima referidas irá reforçar ainda mais a eficácia da implementação de salvaguardas no Irão e a sua possibilidade para concluir a exclusiva natureza pacífica das actividades nucleares do Irão.

Artigo IV (4): A Agência pôde verificar a não-diversão dos materiais nucleares declarados nas instalações de enriquecimento no Irão e chegou assim à conclusão de que os mesmos se mantêm para usos pacíficos. (Relatório da AIEA, sublinhados acrescentados)

Duma penada, o relatório da AIEA é uma bofetada na cara de Washington. Confirma a falta de legitimidade e a natureza criminosa da política externa dos EUA assim como a decisão de Washington de violar as leis internacionais:

« O distanciamento grosseiro da administração Bush em relação ao relatório da AIEA de quinta-feira passada é mais um sinal de que Washington não está interessado numa solução diplomática para o seu confronto com Teerão. Depois das belicosas acusações de Bush contra o Irão feitas na passada semana, os EUA reafirmaram esta semana a sua intenção de pressionar sanções mais pesadas das NU contra Teerão. » ( Peter Symond, Global Research, Setembro/2007 )

Ausência de protesto público

Apesar da natureza abertamente agressiva das declarações americanas, estes planos de guerra dirigidos contra o Irão, que ameaçam de forma real o futuro da humanidade, não são objecto de preocupação ou debate públicos. Uma guerra preventiva, patrocinada pelos EUA, utilizando armas termonucleares que, segundo opinião científica « de confiança » (contratada pelo Pentágono), não apresentam « riscos para a população civil vizinha », não aparece de todo nas notícias de primeira página ao lado de quaisquer outros tópicos triviais.

Os perigos de uma guerra mais alargada no Médio Oriente são minimizados ou ignorados pelas principais coligações anti-guerra. A sugerida utilização de armas nucleares num teatro de guerra convencional não constitui matéria para debate.

Mais ainda, os planeados ataques ao Irão e as suas consequências devastadoras não estão a ser abordadas pelas organizações « progressistas » da sociedade civil incluindo a « Esquerda », que considera tacitamente a República Islâmica como uma ameaça real aos direitos humanos. Segundo Jean Bricmont:

« Estão colocadas todas as placas de sinalização para o ataque ao Iraque. Este país foi cuidadosamente diabolizado porque não é simpático para com as mulheres, os homossexuais e os judeus. Isso, por si só, não basta para neutralizar uma grande parte da « esquerda » americana. Mas a questão, claro, não é se o Irão é simpático ou não segundo a nossa perspectiva – mas se existe alguma razão legal para o atacar, o que não acontece; mas a ideologia dominante dos direitos humanos legitimou, principalmente na esquerda, o direito de intervenção com base em razões humanitárias, em qualquer lado, em qualquer momento, e essa ideologia conseguiu fazer desviar as atenções da questão menor que é a lei internacional ». ( Jean Bricmont, Global Research, September 2007 )

Antecedentes do planeamento da guerra

Nos últimos três anos, em diversos artigos cuidadosamente documentados, a Global Research tem vindo a noticiar com pormenor os planos de guerra patrocinados pelos EUA, virados para o Irão. Estes planos de guerra incluem a utilização preventiva de armas termonucleares contra o Irão como retaliação pela alegada não obediência de Teerão às exigências da « comunidade internacional ».

Os planos de guerra relativos ao Irão têm estado numa fase avançada de prontidão desde meados de 2005. Israel, a Grã-Bretanha e a NATO fazem parte da coligação liderada pelos EUA e candidatam-se a desempenhar um papel activo nas operações militares.

A primeira fase destes planos de guerra foi formulada inicialmente em meados de 2003, ao abrigo de um cenário do Pentágono intitulado TIRANNT (Theater Iran Near Term). A montagem militar decorreu durante um período de mais de três anos.

No verão de 2006 e no início deste ano, foram realizados alargados exercícios de guerra no Golfo Pérsico e no Mediterrâneo oriental.

O bombardeamento de Israel no Líbano em Julho de 2006 foi parte integrante duma agenda militar mais alargada. Numa progressão recente, Israel efectuou bombardeamentos no interior do território da Síria visivelmente num acto de provocação.

Recentes declarações oficiais de Washington confirmam a natureza alargada destes planos de guerra:

« Funcionários superiores americanos da defesa e das informações acham que o presidente George W. Bush e o seu círculo estão a dar passos para colocar a América na via da guerra com o Irão,…

Os estrategas do Pentágono elaboraram uma lista de mais de 2 000 alvos para bombardeamento no Irão,…

Funcionários do Pentágono e da CIA dizem que acham que a Casa Branca desencadeou um programa de escalada cuidadosamente calibrado que poderá conduzir a um confronto militar com o Irão.

Num cenário assustador do modo como poderá chegar-se à guerra, um funcionário superior de informações alertou para que a denúncia pública da intromissão iraniana no Iraque – através do armamento e treino de militantes – dará lugar a ataques no interior das fronteiras em campos de treino iranianos e a bombardeamentos de fábricas.

Um primeiro alvo será a base Fair dirigida pela Força Quds da Guarda Revolucionária Iraniana no sul do Irão, onde as organizações de informações ocidentais dizem que são fabricados os projécteis que perfuram blindados, usados contra as tropas britânicas e americanas.

O funcionário de informações disse que os militares americanos têm « dois grandes planos de contingência » para ataques aéreos ao Irão.

« Um deles é bombardear apenas as instalações nucleares. A segunda opção é para um bombardeamento muito mais amplo que atingirá também – durante dois ou três dias – todos os locais militares significativos. Este plano engloba mais de 2000 alvos ». (citado no Sunday Telegraph, 16/ Setembro/2007)

Os posicionamentos estratégicos navais dos EUA-NATO estão a ser feitos em dois palcos distintos: o Golfo Pérsico e o Mediterrâneo oriental.

Sobre os últimos acontecimentos, noticia-se que estão a caminho do Golfo Pérsico dois grupos de ataque de porta-aviões (USS Nimitz e USS Truman) para se juntarem ao USS Enterprise, o que significa que, nos finais de Setembro, passará a haver três grupos de ataque de porta-aviões no Golfo Pérsico.

Segundo fontes militares, o grupo de ataque USS Kearsarge Expeditionary tomou posição em frente da costa libanesa no passado mês de Agosto.

Os ataques ao Irão são agora oficialmente apoiados pelos aliados europeus da América, incluindo a França e a Alemanha. O ministro dos estrangeiros francês, Bernard Kouchner, apelou para que a França apoie a guerra dos EUA contra o Irão:

« Temos que nos preparar para o pior, e o pior é a guerra », disse Kouchner numa entrevista à TV e à rádio francesas. Kouchner disse que as negociações com o Irão deviam continuar ‘até ao fim’, mas que uma arma nuclear iraniana representava ‘um verdadeiro perigo para todo o mundo' ». (citado pela BBC, em 16 de Setembro de 2007)

A Grã-Bretanha está profundamente envolvida, apesar dos desmentidos a nível diplomático. A Turquia ocupa um papel central na operação Irão. Tem um abrangente acordo de cooperação militar com Israel. A NATO está envolvida formalmente em ligação com Israel, com quem assinou um acordo genérico militar em Novembro de 2004.

Embora os EUA, Israel e a Turquia (que tem fronteiras com o Irão e a Síria) sejam os principais actores militares, a estes juntou-se uma série de outros países da região, aliados dos EUA, que incluem a Geórgia e o Azerbeijão.

Há indicações provenientes de diversas fontes de comunicação que Israel também está numa fase avançada de preparação militar e poderá ser envolvido na execução de parte dos bombardeamentos aéreos. Também seriam alvos a Síria e provavelmente o Líbano.

Já em 2005 a Força Aérea de Israel se encontrava em avançado estado de preparação. Verificou-se que nos ataques aéreos de Israel às instalações nucleares do Irão em Bushehr foram utilizadas bombas arrebenta bunkers fabricadas tanto nos EUA como em Israel. O ataque foi planeado para ser efectuado em três vagas independentes « sendo de conta do AWACS da Força Aérea americana e de outra aviação americana na área a protecção contra s no radar e comunicações ».
(Ver W. Madsen, http://www.globalresearch.ca/articles/MAD410A.html )

Cenários da escalada

Se vier a ser desencadeada esta operação militar, toda a região do Médio Oriente da Ásia Central arderá em chamas.

A guerra estender-se-á por uma área desde o Mediterrâneo oriental até à fronteira da China.

Quanto a este aspecto, os estrategas militares americanos analisaram diversos « cenários de escalada ».

Na verdade, estão à espera duma escalada da guerra. Por outras palavras, a escalada, nomeadamente a retaliação feita pelo Irão, é um objectivo desejado. Faz parte da agenda militar.

« A um ataque seguir-se-á provavelmente uma escalada gradual. Logo nas semanas e meses seguintes os EUA montarão tensões e provas sobre as actividades iranianas no Iraque…

A teoria – que cada vez ganha maior crédito nos círculos de segurança de Washington – é que a acção dos EU provocará uma importante reacção iraniana, talvez sob a forma de movimentos para cortar os abastecimentos de petróleo do Golfo, fornecendo o pretexto para ataques aéreos contra as instalações nucleares do Irão e talvez mesmo contra as suas forças armadas. (Sunday Telegraph, op cit.)

O Irão retalia

É preciso ter em conta a natureza da retaliação do Irão. O general David Petraeus, responsável pela gestão do teatro de guerra do Iraque, manifestou a sua oposição a um ataque contra o Irão.

« Na semana passada no Iraque o general David Petraeus, supremo comandante de Bush no Iraque, denunciou a « guerra de substituição » iraniana, embora tenha apoiado Washington quanto ao reforço militar americano em Bagdad ». ( Sunday Telegraph, op cit)

O general Petraeus está bem consciente das implicações subjacentes para o teatro de guerra no Iraque. Uma guerra no Irão reflectir-se-á imediatamente no Iraque:

O Irão é o terceiro maior importador de sistemas de armas russos, a seguir à Índia e à China. No decurso dos últimos cinco anos, a Rússia tem prestado apoio à tecnologia de mísseis balísticos do Irão, em negociações concretizadas inicialmente em 2001 sob a presidência de Mohammed Khatami.

O Irão testou três novos tipos de mísseis terra-mar e mar-mar no contexto das manobras militares « Grande Profeta II » em Novembro passado. Estes testes ficaram marcados por um planeamento rigoroso numa operação cuidadosamente encenada. Segundo um perito americano em mísseis, « os iranianos demonstraram uma actualizada tecnologia de lançamento de mísseis que o ocidente desconhecia que possuíssem ».

Teerão está em condições de retaliar e desencadear ataques de mísseis balísticos contra as instalações dos EUA e da coligação no Iraque, no Afeganistão e nos estados do Golfo. Israel também poderá ser um alvo a atingir, se Israel desempenhar um papel activo na campanha de bombardeamento.

As tropas terrestres iranianas podem atravessar a fronteira para o Iraque e para o Afeganistão.

As forças do Irão totalizam cerca de 350 mil efectivos militares activos e 350 mil reservistas (Jane’s Iran Profile). O exército iraniano dispõe de uns 2 200 tanques. Com estas condições, em termos de efectivos militares e equipamento, o Irão poderá infligir baixas significativas às tropas americanas e da coligação no Iraque e no Afeganistão.

Nomeações militares de Bush-Cheney

Nos últimos meses têm sido feitas várias nomeações que pretendem reforçar o controlo de Bush-Cheney sobre as forças armadas. Especificamente, estas nomeações dizem respeito aos cargos de presidente e vice-presidente do Estado-Maior Conjunto, e dos comandantes respectivamente do USCENTCOM, do USSTRATCOM e do Comando dos EUA no Pacífico. Todos estes três comandantes resignaram recentemente aos seus cargos.

Estas novas nomeações são cruciais porque o USSTRATCOM, o USCENTCOM e o Comando dos EUA no Pacífico virão a desempenhar papeis chave na coordenação e implementação da operação militar do Irão, em ligação com Israel e a NATO.

1. Comando do Estado-Maior

Em Maio, foi despedido (« sem renovação ») o presidente do Estado-Maior Conjunto, general Peter Pace. O general Pace, nos últimos meses, deu mostras do seu desacordo com a administração em relação ao Iraque e aos previstos ataques ao Irão. O general Pace declarou (em Fevereiro de 2007) que não encontrava provas sólidas de que Teerão estivesse a fornecer armas às milícias xiitas no interior do Iraque, o que estava a ser apregoado pela administração Bush como justificação para desencadear a guerra contra o Irão:

« Talvez seja por isso que ele está de saída. Talvez seja por isso que não o reconduzem. Porque… Ele não encontrou provas de que o Irão está a fomentar a efervescência no Iraque que está a custar vidas aos americanos… » (Fox News’ Alan Colmes, ox News, 13.Junho. 2007)

O mandato do general Peter Pace como presidente do Estado-Maior Conjunto expira no fim de Dezembro. O almirante Michael Mullen, antigo chefe de Operações Navais dos EUA, é o sucessor escolhido por Gates, secretário da Defesa, designado para substituir o general Peter Pace como presidente do Estado-Maior Conjunto.

O discurso de Mullen contrasta fortemente com o do general Peter Pace. Mullen, que foi responsável pela coordenação das manobras navais de 2006-2007 ao largo da costa iraniana, exprimiu um empenho inabalável em « travar » e « ganhar guerras assimétricas », simultaneamente « protegendo os Estados Unidos »:

« temos que garantir que dispomos da Força de Batalha, do povo e da disponibilidade para o combate necessário para ganhar as guerras do nosso país…

A nossa Marinha está a travar a Guerra Global contra o Terrorismo enquanto simultaneamente fornece uma Reserva Estratégica a nível mundial para o Presidente e para os nossos Comandantes Unidos e Combatentes… Já não é possível aceitar uma acção de pura reacção à mudança, se se quiser que a nossa Marinha tenha sucesso nas guerras assimétricas que trava e em simultâneo detenha ameaças regionais e transnacionais. (Declaração, Comissão das Forças Armadas do Senado, 7 de Maio de 2007)

A posição do almirante Mullen está em linha com a dos principais ideólogos neo-conservadores da administração Bush. No que se refere ao Irão, fazendo eco quase literalmente da posição da Casa Branca, o almirante Mullen considera que é « inaceitável que o Irão esteja a fornecer aos inimigos dos EUA no Iraque e no Afeganistão condições para ferir e matar tropas americanas ». (Inside the Pentagon, 21/Junho/2007). Mas quanto à questão do Irão, os Democratas estão no mesmo barco. Há um consenso bipartidário, expresso pelo senador Jo Lieberman:

« Quero que fique claro que não estou a falar de uma invasão terrestre maciça do Irão… [mas de um] ataque pela fronteira do Irão, onde temos boas provas de que há uma base em que andam a treinar pessoas que depois regressam ao Iraque para matar os nossos soldados ». (AP, 11 de Junho de 2007)

Em Junho, o secretário da Defesa Gates nomeia o comandante do USSTRATCOM, general Cartwright, para o cargo de vice-presidente do Estado-Maior Conjunto. Juntamente com a nomeação do almirante Mullen, que deverá assumir o seu cargo de presidente em Outubro, estas duas novas nomeações implicam uma remodelação significativa na estrutura de poder do Estado-Maior Conjunto.

No entretanto, o USSTRATCOM está a ser chefiado, temporariamente, enquanto se aguarda a confirmação do Senado para um novo comandante, pelo tenente general C. Robert Kehler da Força Aérea.

2. CENTCOM

Em Março o secretário da Defesa, Robert M. Gates, nomeou o almirante William J. Fallon como chefe do Comando Central dos EUA (CENTCOM)

O almirante Fallon está inteiramente de acordo com os planos de guerra da administração Bush no que se refere ao Irão. Substitui o general John P. Abizaid, que foi empurrado para a reforma, na sequência de aparentes divergências com o sucessor de Rumsfeld, o secretário da Defesa Robert M. Gates. Enquanto que Abizaid reconheceu os fracassos e as fraquezas das forças militares americanas no Iraque, o almirante Fallon alinha de perto com o vice-presidente Dick Cheney. Também está profundamente empenhado na « Guerra Global contra o Terrorismo ». O CENTCOM será responsável pela coordenação de um ataque ao Irão a partir do teatro de guerra do Médio Oriente.

Além disso, a nomeação de um almirante é indicadora de uma viragem na ênfase das funções do USCENTCOM no teatro de guerra. A ênfase do « próximo período » é no Irão em vez de no Iraque, exigindo a coordenação de operações navais e aéreas no Golfo Pérsico.

3. Comando do Pacífico

Foi implementada outra importante nomeação militar, que tem uma influência directa nos preparativos da guerra relativa ao Irão. Em Março foi nomeado o almirante Timothy J. Keating, comandante do NORTHCOM dos EUA, para chefiar o Comando dos EUA do Pacífico, o que inclui a Quinta e a Sétima Esquadras. O comando da Sétima Esquadra do Pacífico é o maior comando combatente dos EUA. Keating, que substitui o almirante Fallon, é também um firme apoiante da « guerra contra o terrorismo ». O Comando no Pacífico desempenhará um papel chave no contexto de uma operação militar dirigida contra o Irão. ( http://www.pacom.mil/about/pacom.shtml )

Significativamente, o almirante Keating também esteve envolvido no ataque ao Iraque em 2003, como chefe do Comando Central das Forças Navais dos EUA e da Quinta Esquadra.

É preciso compreender que estas novas nomeações militares pretendem consolidar o poder de Bush-Cheney nas forças militares, eliminando possíveis dissidências ou oposição à agenda de guerra do Irão no seio dos escalões mais altos das forças armadas americanas.

No entanto, não é provável que seja desencadeada uma grande operação militar logo a seguir à tomada de posse de Mullen como presidente do Estado-Maior Conjunto e antes da confirmação do Senado americano de um novo comandante do USSTRATCOM.

Papel central do USSTRATCOM na coordenação dos ataques

O USSTRATCOM terá a responsabilidade de supervisionar e coordenar este posicionamento estratégico militar e também a de desencadear a operação militar dirigida contra o Irão. (Para mais pormenores, ver ‘Nuclear War against Iran’ de Michel Chossudovsky, Jan/2006 )

Em Janeiro de 2005 foi implementada uma reviravolta significativa no mandato do USSTRATCOM. O USSTRACTCOM foi identificado como « o principal Comando Combatente para a integração e sincronização dos esforços a nível do Departamento da Defesa para combate às armas de destruição maciça ». Para implementar este mandato, foi criada uma unidade de comando, novinha em folha, intitulada Joint Functional Component Command Space and Global Strike , ou JFCCSGS.

Com a supervisão do USSTRATCOM, o JFCCSGS será responsável pelo desencadeamento das operações militares « utilizando armas nucleares ou convencionais » em conformidade com a nova doutrina nuclear da administração Bush. Estas duas categorias de armas serão integradas numa « operação conjunta de ataque » sob Comando e Controlo unificado.

Segundo Robert S. Norris, Hans M. Kristensen Robert S. Norris e Hans M. Kristensen, que escreveram no Bulletin of Atomic Scientists:

« O Departamento de Defesa está a actualizar os seus planos de ataque nuclear de modo a reflectirem a nova orientação presidencial e uma transição no planeamento de guerra passando do Plano Operacional Único Integrado da Guerra Fria para uma família de planos de ataque mais pequenos e mais flexíveis destinados a derrotar os adversários actuais. O novo plano estratégico de guerra é conhecido por OPLAN (Operations Plan) 8044… Este plano detalhado e revisto fornece opções mais flexíveis para tranquilizar os aliados e para dissuadir, deter e, se necessário, derrotar os adversários numa gama de contingências mais vasta…

Um dos membros da nova família é o CONPLAN 8922, um plano conceptual para a utilização rápida de armamento nuclear, convencional ou informático para destruir – preventivamente, se necessário – « alvos urgentes » em qualquer parte do mundo. No início de 2004 o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, emitiu uma Ordem de Alerta que instruía os militares para pôr em acção o CONPLAN 8022. Em consequência disso, a política preventiva da administração Bush está actualmente operacional nos bombardeiros de longo alcance, nos submarinos estratégicos em patrulhas dissuasoras e, presumivelmente, nos mísseis balísticos intercontinentais ».

A implementação operacional do Ataque Global será feita segundo o PLANO CONCEPTUAL (CONPLAN) 8022, que consiste hoje num « plano actual que a Marinha e a Força Aérea traduzem num pacote de ataque para os seus submarinos e bombardeiros ». (Japanese Economic Newswire, 30/Dezembro/2005. Para mais pormenores, ver ‘Nuclear War against Iran’ de Michel Chossudovsky)

O CONPLAN 8022 é « o plano geral que cobre todos os cenários estratégicos pré-planeados que envolvem armas nucleares ».

‘Tem em conta especificamente estes novos tipos de ameaças – Irão, Coreia do Norte – e também a proliferação e terroristas potenciais », disse. ‘Não há nada que diga que não se pode usar o CONPLAM 8022 em cenários limitados contra alvos russos e chineses’. (Segundo Hans Kristensen, do Projecto de Informações Nucleares, citado em Japanese Economic News Wire, op. cit.)

O USSTRACTOM desempenhará um papel central na tomada de decisões e na coordenação na eventualidade de uma guerra contra o Irão. A administração encarregou o USSTRACTOM de elaborar planos de guerra centralizados dirigidos contra o Irão. O CENTCOM ficará amplamente envolvido na execução desses planos de guerra no teatro de guerra do Médio Oriente.

O USSTRATCOM é descrito como « um integrador global encarregado das missões de ataque global de espectro total ».

O USSTRACTOM é responsável pela coordenação das estruturas de comando sob o C4ISR global (Command, Control, Communications, Computers, Intelligence, Surveillance, and Reconnaissance). « O planeamento dia a dia e a sua execução [pelo STRATCOM] para as áreas de missões primordiais são feitos por cinco Comandos de Componentes Funcionais ou JFCC’s e mais três componentes funcionais ».

Se o Irão retaliar, os EUA poderão usar armas nucleares

Os estrategas militares dos EUA, da NATO e de Israel estão perfeitamente conscientes de que os « bombardeamentos punitivos » aéreos podem conduzir as forças coligadas a um cenário de guerra terrestre em que terão de se confrontar com forças iranianas e sírias no campo de batalha.

Teerão confirmou que irá retaliar se for atacado, sob a forma de ataques de mísseis balísticos dirigidos contra Israel e contra instalações militares americanas no Iraque, no Afeganistão e no Golfo Pérsico, que conduzirão de imediato a um cenário de escalada militar e de guerra aberta.

As tropas iranianas podem atravessar a fronteira Irão-Iraque e confrontar-se com forças da coligação no interior do Iraque. Tropas e/ou Forças Especiais israelenses podem vir a entrar na Síria.

Se o Irão vier a retaliar de forma vigorosa, o que está contemplado pelos estrategas militares americanos, os EUA poderão então retaliar com armas nucleares tácticas.

Este cenário de utilização de armas nucleares contra o Irão tem estado em cima da mesa desde 2004. Em 2005, o vice-presidente Dick Cheney encarregou o USSTRATCOM de estabelecer um « plano de contingência » que « inclua um ataque aéreo de grande escala ao Irão utilizando armas convencionais e nucleares tácticas ». (Philip Giraldi, ‘Attack on Iran: Pre-emptive Nuclear War’ , The American Conservative, 02/Agosto/2005).

Em relação aos actuais planos de guerra, Cheney confirmou a sua intenção de atacar o Irão com armas nucleares.

« Diz-se que o vice-presidente defende o uso de armas nucleares tácticas, rebenta bunkers, contra as instalações nucleares do Irão. Os seus aliados desmentem isso, mas é voz corrente que Cheney anda a fazer pressão para ataques aéreos se vierem a ser identificados locais onde as unidades da Guarda Revolucionária treinam milícias xiitas.

Notícias recentes sobre o Irão parece encaixarem-se no padrão da escalada prevista por funcionários do Pentágono ». ( Sunday Telegraph, op cit)

Autorização de posicionamento estratégico de armas nucleares

Em Maio de 2004, foi publicada a Directiva Presidencial de Segurança Nacional, NSPD 35, intitulada Autorização de Posicionamento Estratégico de Armas Nucleares (Nuclear Weapons Deployment Authorization) .

O conteúdo deste documento altamente sensível mantém-se em segredo de estado muito bem guardado. Os meios de comunicação não referiram a NSPD 35 que também não foi referida nos debates do Congresso. Embora o seu conteúdo se mantenha confidencial, presume-se que a NSPD 35 diz respeito ao posicionamento estratégico de armas nucleares tácticas no teatro de guerra do Médio Oriente em conformidade com o CONPLAM 8022.

Também foram posicionadas estrategicamente armas nucleares tácticas dirigidas contra o Irão em bases militares de vários estados não nucleares da NATO, incluindo a Alemanha, a Itália, a Holanda, a Bélgica e a Turquia.

É preciso saber-se que, mesmo sem utilização de armas nucleares, a intenção dos EUA de efectuar bombardeamentos aéreos sobre as instalações nucleares do Irão poderão dar azo a um desastre nuclear do tipo de Chernobyl ou numa escala significativamente maior.

Cenário de III Guerra Mundial

Embora a guerra contra o Irão seja do conhecimento dos meios de comunicação ocidentais, não aparece como notícia de primeira página.

Não se abordam as enormes implicações duma catástrofe iminente.

A escalada pode levar-nos a um cenário de III Guerra Mundial.

Dada a desinformação dos meios de comunicação, subestima-se a gravidade de uma guerra dos EUA contra o Irão, alegadamente em retaliação pela desobediência do Irão à « comunidade internacional ».

A propaganda de guerra consiste em « fabricar um inimigo » ao mesmo tempo que se transmite a fantasia de que o mundo ocidental está a ser atacado por terroristas islâmicos, que são directamente apoiados pelo governo de Teerão.

« Tornar o mundo mais seguro », « evitar a proliferação dos terríveis engenhos nucleares entre os terroristas », « implementar acções punitivas contra o Irão para garantir a paz ». « Combater a proliferação nuclear entre os estados terroristas… »

Com o apoio dos meios de comunicação ocidentais, estabeleceu-se uma atmosfera generalizada de racismo e de xenofobia dirigida contra os muçulmanos, especialmente na Europa ocidental, que propicia uma falsa legitimidade à agenda de guerra dos EUA. Esta é apregoada como uma « Guerra Justa ». A teoria da « guerra justa » serve para camuflar a natureza dos planos de guerra americanos, ao mesmo tempo que apresenta os invasores com uma face humana.

O que é que se pode fazer?

O movimento anti-guerra está, em muitos aspectos, dividido e mal informado sobre a natureza da agenda militar americana. Nos EUA, o United for Peace and Justice apoia tacitamente a política externa do país. Não consegue reconhecer a existência de um movimento de resistência iraquiano. Além disso, estas mesmas organizações anti-guerra, que estão empenhadas na Paz Mundial, tendem a subestimar as implicações dos propostos bombardeamentos dos EUA no Irão. De forma mais genérica, o movimento anti-guerra não encara a existência de uma agenda militar mais alargada para o Médio Oriente, uma longa guerra. As suas acções são aos retalhos, centrando-se no Afeganistão, no Iraque e na Palestina sem abordarem a relação entre esses diversos teatros de guerra.

Para inverter a maré é necessário uma maciça campanha de organização de uma rede de comunicações para informar as pessoas por todo o lado, nacional e internacionalmente, na vizinhança, no local de trabalho, na paróquia, na escola, na universidade, no município, sobre os perigos de uma guerra patrocinada pelos EUA, que contempla de modo bastante explícito o uso de armas termonucleares. A mensagem deve ser feita em voz alta e bem sonante. Tal como ficou confirmado no relatório da AIEA, a ameaça não é o Irão.

Também tem que haver debates e discussões no seio da comunidade militar e das informações, em especial no que se refere ao uso de armas nucleares tácticas, nos corredores do Congresso americano, nos municípios e em todos os níveis governamentais.

Finalmente, deve ser contestada a legitimidade dos actores políticos e militares de altos cargos.

Os meios de comunicação também detêm uma pesada responsabilidade pelo encobrimento dos crimes de guerra patrocinada pelos EUA. É forçoso contestar a cobertura inquinada que fazem da guerra do Médio Oriente.

Durante os dois últimos anos, Washington tem vindo a efectuar uma « pressão diplomática » com o objectivo de alistar países para o apoio à sua agenda militar. É essencial que a nível diplomático, os países do Médio Oriente, da Ásia, da Africa e da América Latina assumam uma posição firme contra a agenda militar americana.

O que é preciso é quebrar a conspiração de silêncio, denunciar as mentiras e as distorções dos meios de comunicação, confrontar a natureza criminosa da administração americana e dos governos que a apoiam, a sua agenda de guerra assim como a chamada « agenda de Segurança Nacional » que já definiu os contornos de um estado polícia.

O Mundo está na encruzilhada da mais grave crise da história moderna. Os EUA embarcaram numa aventura militar, « uma longa guerra », que ameaça o futuro da humanidade.

É essencial trazer o projecto de guerra dos EUA para o primeiro plano do debate político, em especial na América do Norte e na Europa ocidental. Os dirigentes políticos e militares que se opõem à guerra devem assumir uma posição firme, a partir das suas instituições. Os cidadãos também devem assumir uma posição, individual e colectivamente, contra a guerra.

Este artigo inclui alguns excertos seleccionados de anteriores artigos meus sobre os planos de guerra dos EUA em relação ao Irão. Para rever os planos de guerra dos EUA em relação ao Irão, ver o dossier do Irão do Global Research .

16/Setembro/2007

O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=6792 .
Tradução de Margarida Ferreira.

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ 



Articles Par : Prof Michel Chossudovsky

A propos :

Michel Chossudovsky is an award-winning author, Professor of Economics (emeritus) at the University of Ottawa, Founder and Director of the Centre for Research on Globalization (CRG), Montreal, Editor of Global Research.  He has taught as visiting professor in Western Europe, Southeast Asia, the Pacific and Latin America. He has served as economic adviser to governments of developing countries and has acted as a consultant for several international organizations. He is the author of eleven books including The Globalization of Poverty and The New World Order (2003), America’s “War on Terrorism” (2005), The Global Economic Crisis, The Great Depression of the Twenty-first Century (2009) (Editor), Towards a World War III Scenario: The Dangers of Nuclear War (2011), The Globalization of War, America's Long War against Humanity (2015). He is a contributor to the Encyclopaedia Britannica.  His writings have been published in more than twenty languages. In 2014, he was awarded the Gold Medal for Merit of the Republic of Serbia for his writings on NATO's war of aggression against Yugoslavia. He can be reached at [email protected] Michel Chossudovsky est un auteur primé, professeur d’économie (émérite) à l’Université d’Ottawa, fondateur et directeur du Centre de recherche sur la mondialisation (CRM) de Montréal, rédacteur en chef de Global Research.

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