Posse de Obama: Derrapagem na Wall Street. E onde estão os credores?

Quando aprenderemos?

Por toda a terra prevalece uma atmosfera de esperança e optimismo. O regime Bush foi-se. Um novo presidente está na Casa Branca.

Enquanto a América estava com o olhos fixados na TV a assistir a posse presidencial de Barack Obama, os mercados financeiros estavam a derrapar.

Uma grande « correcção de mercado » verificou-se. Afastada do olhar público, virtualmente não noticiada, uma nova etapa da crise financeira desdobrou-se.

Imediatamente a seguir à inauguração, o Dow Jones mergulhou, afectando amplamente os preços das acções das principais instituições financeiras.

As cotações dos valores das acções dos principais bancos da Wall Street afundaram. O Citigroup caiu 20 por cento, o Bank of America 29 por cento e o JP Morgan Chase 20 por cento. O Royal Bank of Scotland caiu 69 por cento no pregão de Nova York.

Símbolo, banco
Preço
Mudança

BAC, Bank of America
5.10
-2.08

BK, Bank of New York Mellon
19.00
-3.96

C, Citigroup
2.80
-0.70

FITB, Fifth Third Bancorp
4.22
-1.21

JPM, JPMorgan Chase & Co
18.09
-4.73 Fonte: Yahoo

As dificuldades e as perdas de valor contabilístico dos principais bancos eram conhecidas bem antes da posse do presidente Obama.

Então, por que agora?

Esperava-se que a posse de um presidente Obama proporcionasse confiança aos mercados financeiros. Ocorreu exactamente o oposto.

Não houve nada de espontâneo e acidental neste colapso dos valores das acções dos bancos.

O discurso de Obama fora do Capitólio fora redigido bem antes. O seu conteúdo foi cuidadosamente elaborado.

O presidente Obama fez referência explícita às desgraças da economia global, enquanto enfatizava que: « sem um olhar vigilante, o mercado pode ficar fora de controle ».

« Obama advertiu que a recuperação económica seria difícil e que ao país deve escolher « a esperança em relação ao medo, a unidade de propósito em relação ao conflito e à discórdia » a fim de ultrapassar a pior crise económica desde a Grande Depressão » (Associated Press, 20/Janeiro/2009).

Havia altas expectativas na Wall Street. Muitos correctores da Wall Street, que dispunham dos conteúdos do discurso de Obama, estava a « apostar » que as declarações de Obama ajudariam a estabilizar os mercados financeiros.

Aqueles que redigiram o discurso de Obama estavam plenamente conscientes das suas possíveis repercussões financeiras.

« As altas expectativas quanto a pormenores de como a nova administração iria tratar a crescente crise bancária e a economia vacilante foram reduzidas após o discurso da posse » (Reuters, 20/Janeiro/2009).

Coincidentemente, o presidente da Securities and Exchange Commission, Christopher Cox, nomeado por Bush em 2005, renunciou no mesmo dia da posse presidencial, levando ao vácuo na adopção de decisões cruciais de regulamentação financeira. O seu sucessor, Mary Shapiro, só tomará posse a seguir a audiências de confirmação do Senado.

Aqueles que tinham conhecimento prévio e/ou informação interna quanto ao texto do discurso de Obama e que tinham a capacidade para « mover o mercado » no momento certo e no lugar certo, prepararam-se para ganhar na condução das principais acções especulativa nos mercados de acções e de divisas.

Terão estas transacções especulativas sido planeadas antes de 20 de Janeiro ( Ver vídeo )

Será que houve um esforço concertado e deliberado para « short the market » [1] no próprio dia da posse presidencial?

Nos mercados de divisas, o movimento foi inverso, o dólar dos EUA estava a subir, o euro, a libra britânica e o dólar do Canadá estavam a afundar. O governador do Banco Central do Canadá escolha a data da posse presidencial para anunciar um corte na taxa de juro aparentemente para « estimular a economia e promover a concessão de empréstimos aos consumidores e negócios ». O impacto: o dólar do Canadá declinou dramaticamente em relação à nota verde.

Será que todos os credores foram embora?

Dizem que as maiores instituições financeiras estão em águas perturbadas, endividadas a credores não identificados. Desde o desencadeamento do colapso financeiro, a identidade dos credores permanece um mistério.

Ao longo dos anos, o establishment financeiro estabeleceu hedge funds privados registados no nome de indivíduos ricos. Grandes montantes de riqueza foram transferidos de grandes instituições financeiras para estes hedge funds de propriedade privada, os quais em grande medida escapam à regulamentação governamental.

Por que os bancos estão endividados? A quem? Serão eles as vítimas ou os receptadores? Serão eles os devedores ou os credores?

Os maiores bancos da América têm, ao longo dos anos, filtrado parte dos seus lucros excedentes para vários dispositivos financeiros proxy:   hedge funds, contas registadas em paraísos bancários offshore nos trópicos, etc.

Enquanto estes milhares de milhões de transferências de dólares são conduzidos electronicamente de uma entidade financeira para a outra, a identidade dos credores nunca é mencionada. Quem está a coleccionar estas dívidas multi-bilionárias as quais são, em grande parte, a consequência da manipulação financeira?

O colapso nos valores de mercado das acções dos bancos foi com toda a probabilidade conhecido antecipadamente. Os bancos já mudaram o seu saque para um paraíso financeiro seguro.

Os bancos estão em águas perturbadas depois de terem recebido centenas de milhares de milhões de dólares do dinheiro para o salvamento.

Para onde é que o dinheiro do salvamento está a ir? Quem está a aproveitar-se dos muitos milhares de milhões de dólares do dinheiro do salvamento do governo? Este processo está a contribuir para uma concentração de riqueza privada sem precedentes.

A imprensa financeira reconhece a existência de milhares de milhões de dólares de « dívida interbancária ». Mas nem uma palavra é mencionada acerca dos credores.

Para todo devedor há um credor.

Não será este o dinheiro que as elites financeiras guardam para si próprias?

Quem quer que possua estes milhões de milhões finalmente acabará por apanhar as peças. Eles transformarão a sua enorme riqueza de papel aplicando-a na aquisição de activos reais.

O acordar do dia seguinte

E no dia seguinte após as esperanças e promessas da posse presidencial, os americanos da classe média que investiram em acções « seguras » dos bancos perceberão que parte das poupanças de toda a sua vida foi subitamente confiscada.
20/Janeiro/2009
[1] Short the market: Uma posição longa no mercado de acções significa que um investidor comprou uma acção na expectativa de que o seu preço venha a subir. A maioria dos investidores em bolsa toma posições longas. O oposto é posição curta. Os investidores que são « short the market » vendem acções na expectativa de que os preços caiam no futuro.

O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=11919

Traduzido por Resistir.



Articles Par : Prof Michel Chossudovsky

A propos :

Michel Chossudovsky is an award-winning author, Professor of Economics (emeritus) at the University of Ottawa, Founder and Director of the Centre for Research on Globalization (CRG), Montreal, Editor of Global Research.  He has taught as visiting professor in Western Europe, Southeast Asia, the Pacific and Latin America. He has served as economic adviser to governments of developing countries and has acted as a consultant for several international organizations. He is the author of eleven books including The Globalization of Poverty and The New World Order (2003), America’s “War on Terrorism” (2005), The Global Economic Crisis, The Great Depression of the Twenty-first Century (2009) (Editor), Towards a World War III Scenario: The Dangers of Nuclear War (2011), The Globalization of War, America's Long War against Humanity (2015). He is a contributor to the Encyclopaedia Britannica.  His writings have been published in more than twenty languages. In 2014, he was awarded the Gold Medal for Merit of the Republic of Serbia for his writings on NATO's war of aggression against Yugoslavia. He can be reached at [email protected] Michel Chossudovsky est un auteur primé, professeur d’économie (émérite) à l’Université d’Ottawa, fondateur et directeur du Centre de recherche sur la mondialisation (CRM) de Montréal, rédacteur en chef de Global Research.

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