Sochi : Os cinco círculos de gelo

Os ventos da guerra fria estão soprando nas Olimpíadas invernais de Sochi, ou melhor, nas « Olimpíadas do Tzar Putin » [Tzar, em russo Царь, significando imperador ou rei] como as chamam em unisono a mídia ocidental. As explêndidas prestações dos atletas do mundo inteiro, que se prepararam por muitos anos para os jogos, passaram ao segundo plano, ou melhor, elas são ignoradas completamente, salvo se for um atleta nacional que a ganhe. Enquanto encobrindo de sombras as Olimpíadas, fruto de um colossal trabalho coletivo, a mídia fornece informações detalhadas sobre o destino de cães errantes em Sochi, e sobre o fato de que na cerimônia de abertura, um dos cinco anéis olímpicos não tinha ficado iluminado, tendo então uma aparência de floco de neve (um funesto presságio teriam dito os antigos). Ao mesmo tempo então foi lançado um alarme de que atentados terroristas poderiam transtornar as Olimpíadas. Isso após o que então aconteceu, pontualmente, em Volgagrado, na Rússia, de quando dos dois recentes atentados terroristas,

Em Washington, onde se entende de terrorismo, exprimiu-se a preocupação por um possível atentado a Sochi o que foi seguido da decisão de se intervenir militarmente : o “Mount Whitney”, um navio de guerra, almirante, da Sexta Flota, ancorou-se em Gaéte (Lacium), para entrar no Mar Negro com a fregata “Taylor”. Eles estiveram a pouco de evacuar de Sochi os atletas e expectadores norteamericanos. Os dois navios de guerra, flanqueados de unidades da Geórgia, exercitaram-se em manter os limites das águas territoriais russas.

Obama, Cameron e Hollande, valentes defensores dos direitos humanos, pelos quais eles motivam suas guerras e massacres, deram a entender que eles não foram as Olimpíadas porque na Rússia a propaganda “gay”, ou seja homosexual, está proibida ; e Letta, que é presidente do Conselho Italiano, NdT, prometeu de reafirmar em Sochi o desgosto da Itália frente a qualquer tipo de discriminação a respeito de “gays”. Isso ele declarou só alguns dias depois de ter feito oficialmente os louvores a Dubai, a respeito « da posição humanitária dos Emirados » e de ter exprimido apreciações similares a respeito das outras monarquias do Golfo, onde o código penal pune as relações consentidas entre adultos do mesmo sexo, com dez anos de prisão, o que na Arábia Saudita se pune então com a flagelação ou a lapidação, ou seja, a pedradas.

Essas mesmas monarquias, assim tão apreciadas por Obama e pelos outros líderes ocidentais, estão se preparando atualmente a submeter os imigrantes a uns tantos imprecisos « testes médicos » para evitar que homosexuais entrem nos países do Golfo. Essa história de Obama, Letta, e outros líderes ocidentais, estarem ao lado de homosexuais na Rússia  é simplesmente instrumental. Isso assim também como o é a acusação contra Moscou de ter expendido demais para as Olimpíadas, e de querer utilizar a mesma para fins nacionais propagandísticos, o que o fazem todos os países que as acolhem, por causa mesmo do próprio mecanismo desses eventos internacionais, os quais deveriam ser sujeitos a grandes revisões. Essas acusações, mesmo que tenham uma base de verdade, tem mais a ver com um objetivo bem preciso : alimentar a opinião pública para um novo clima de guerra fria. Essa é uma estratégia US/OTAN que encontra em Moscou uma crescente oposição. Se Bóris Yeltsin ainda estivesse no poder na Rússia, disposto a fazer todas as concessões aos Estados Unidos e ao ocidente, ninguém iria definir Sotchi como « as Olímpíadas to Tsar Yeltsin ».

De acordo com o julgamento incontestável daqueles que em Washington dão as guias de conduta para o seu governo, Yeltsin deveria ser posto na lista dos « gentís » enquanto que Putin deveria entrar naquela dos « maus ». Essa é a lista da qual se escolhe, cada vez que se mostre necessário,  « o inimigo número um » como fizeram com Saddan Hussein, Milosevic e Kaddafi. Essa escolha e essa denominação servem para justificar a escalada militar até a guerra. Será no alvo que escolheram, que cada vez que for necessário, se concentrarão os ataques políticos e midiáticos. Eles farão que seus defeitos sejam rendidos de maneira gigantesca, escondendo assim aqueles, muitíssimo maiores, daqueles que se levantam como tutores dos direitos humanos.

Manlio Dinucci

 

Edição de terça-feira, 11 de fevereiro de 2014 do il manifesto

Texto original :  http://ilmanifesto.it/i-cinque-cerchi-di-ghiaccio/

Tradução Anna Malm, artigospoliticos.wordpress.compara mondialisation.ca



Articles Par : Manlio Dinucci

A propos :

Manlio Dinucci est géographe et journaliste. Il a une chronique hebdomadaire “L’art de la guerre” au quotidien italien il manifesto. Parmi ses derniers livres: Geocommunity (en trois tomes) Ed. Zanichelli 2013; Geolaboratorio, Ed. Zanichelli 2014;Se dici guerra…, Ed. Kappa Vu 2014.

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